Anthony McCall
Nome referencial nas práticas artísticas transdisciplinares, o britânico radicado nos EUA Anthony McCall articula linguagens como escultura, instalação, performance, arquitetura, cinema e desenho. Esta mostra de certa forma complementa a retrospectiva realizada pela Luciana Brito Galeria em 2011, quando a curadoria de Jacopo Crivelli Visconti apresentou ao público brasileiro a icônica obra Light Describing a Cone, entre outras. A seleção de obras desta exposição reitera o papel central do artista no manejo da qualidade escultórica da luz, mas também destaca a presença da performance e a dimensão material de suas instalações.
Circulation Figures, instalação que ocupa a sala central do térreo da galeria, por exemplo, associa a ambientação do espaço ao caráter discursivo do cinema. Projetado em uma tela suspensa no centro da sala, um vídeo no qual se alternam passagens silenciosas e ruídos sugestivos mostra fotógrafos em ação. Um instigante incômodo vem do fato de que nunca temos acesso àquilo que eles registram, sugerindo o que uma recente matéria do New York Times classificou como “uma alegoria do narcisismo moderno”. Ao mesmo tempo, a sala, que está coberta de folhas de jornal amassadas, tem dois grandes espelhos em cada lado: a multiplicação infinita da instalação não apenas cria uma experiência sensorial marcante, mas confere novas camadas de sentido à obra. O trabalho, de 2010, teve sua primeira versão em 1972. Para McCall, esse expediente de recriar suas obras em novas tecnologias permite ser cada vez mais fiel à ideia original.
Duas “maquetes” luminosas presentes na exposição são outras das obras que o artista recria com recursos atuais. Instalados na sala posterior da galeria, os trabalhos integram a série de Solid Light Films, desenvolvida desde o início da década de 70, em que o ponto focal do visitante não é a tela onde a luz é projetada, mas sim o trajeto da luz no espaço. McCall torna tangível a luminosidade, quase lhe conferindo solidez. Ao caráter inicialmente impalpável da luz se contrapõe o rigor geométrico das figuras que constituem essas esculturas luminosas, aspecto que rende comparações com Sol Lewitt e Richard Serra; artistas de que McCall se distingue, entre outros aspectos, pela engenhosa ambiguidade de sua “matéria-prima”. A presença destas obras não apenas traz ao público brasileiro um dos mais conhecidos segmentos da produção do artista, mas também, por seu caráter mais acessível e de mais simples montagem do que as instalações, permitirá que exemplares sejam incorporados a coleções nacionais.
Como na exposição de 2011, a galeria dá visibilidade também ao processo criativo do artista e apresenta a série Traveler (2012) – 24 desenhos que compõem estudos para a instalação performativa Eclipse, um trabalho desenvolvido em colaboração com o coreógrafo americano Jonah Bokaer. O projeto de McCall envolvia conceber um espaço de performance para visualização a partir dos quatro lados, e incluiu 36 lâmpadas com que dançarinos interagiam, além de figurinos. Nos desenhos expostos, o espectador pode compreender como o artista apreendeu a parceria e a traduziu a partir de seu repertório estético.
Na exposição estará disponível o catálogo bilíngue editado pela galeria em 2011, de 130 páginas e com mais de cem imagens e trechos de textos referenciais, além de entrevistas, até então inéditos em português.
Sobre o artista
Nascido em St. Paul’s Cray, Inglaterra, em 1946, Anthony McCall radicou-se em Nova York, onde vive e trabalha desde 1973. Inicialmente, ainda na Inglaterra, envolveu-se com performances e filmes. Mais tarde, não obstante um intervalo criativo de mais de duas décadas, suas pesquisas se voltaram para a luz, a arquitetura e o espaço, com ênfase na participação intensa do público. McCall possui uma vasta produção, presente em coleções como as do Centre Georges Pompidou (Paris, França), Museum of Modern Art (MoMa - Nova York, USA) e Tate (Londres, Inglaterra), entre outras. Além de mostras individuais em instituições de renome, a importância histórica de sua obra foi destacada em exposições como Into the Light: the Projected Image in American Art 1964-77, no Whitney Museum of American Art, New York (2001-2); The Expanded Screen: Actions and Installations of the Sixties and Seventies, no Museum Moderner Kunst, Viena (2003-4); The Geometry of Motion 1920s/1970s (2008) e On Line (2010-11), ambas no MoMA. Saiba mais na seção do artista neste site.
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Luciana Brito Galeria
Avenida Nove de Julho 5162
São Paulo Brasil 55 11 3842 0634