Afonso Tostes | Ajuntamentos

Luciana Brito Galeria, São Paulo, 2023
1 Fevereiro 2023
Ao longo dos últimos anos, testemunhamos uma profunda revisão histórica feita de um ponto de vista anticolonial que busca compreender as violências epistemológicas constitutivas da história da arte. De um modo muito singular, sem mimetizar maneirismos formais ou discursivos, a exposição “Ajuntamentos”, de Afonso Tostes, ecoa esse movimento de mudança que marca o presente. E por que de um modo singular? Porque, na obra de Tostes, o que se dá não é uma recusa do repertório do cânone ocidental, mas, antes, o encontro entre dois rios. Por um lado, aquele cujas águas formam o conjunto de obras reconhecidas por uma historiografia oficial, por outro, aquele irrigado pelos saberes dos povos tradicionais. Esse é um dos ajuntamentos forjados pelo artista.
 
O mesmo momento histórico que testemunha a virada epistemológica anticolonial sinalizada no começo deste texto é, também, aquele que assiste ao crescimento de ondas reacionárias cujo denominador comum está na ideia de união pelas similaridades e rejeição às alteridades. Tal comunhão por semelhança implica uma busca guiada pelas noções de pureza e exclusão. Ora, os ajuntamentos tecidos por Afonso Tostes ao longo da sua obra nos levam para as antípodas de tal curso regressivo. Estamos diante de um gesto a um só tempo poético e político que nos convoca a imaginar um mundo mais polifônico e solidário – um mundo de muitos mundos.