Cem Anos de Waldemar Cordeiro

Luciana Brito Galeria, São Paulo, 2025
8 Setembro 2025

Talvez o que melhor define o aspecto transdisciplinar e visionário da obra de Waldemar Cordeiro seja sua incursão no campo da arte computacional, na virada para os anos 1970. Para isso, ele desenvolveu uma “nova gramática visual”, uma maneira de expandir a lógica construtiva do concretismo para um ambiente regido por códigos e variáveis. No entanto, até de forma paradoxal, pela primeira vez ele optou por humanizar o discurso visual, trazendo a figura humana para sua pesquisa, além do uso e funcionalidade do computador. Waldemar Cordeiro foi o primeiro artista brasileiro — e um dos pioneiros no mundo — a utilizar o computador como ferramenta criativa, numa época em que o acesso a essas máquinas era restrito a instituições acadêmicas e centros de pesquisa. Destaque na mostra, obras da série Gente (1972-1973) foram realizadas a partir da apropriação de uma imagem de multidão. Com a ajuda de Giorgio Moscati, do Departamento de Física da USP, Waldemar Cordeiro criou uma metodologia própria, onde utilizava elementos figurativos de fotografias como objetos para experimentações visuais. Depois de passar por digitalização, essas imagens eram convertidas em dados numéricos (tramas gráficas). Essas tramas poderiam ganhar mais ou menos saturação por meio da programação algorítmica, desenvolvendo nuances que podem ser identificadas nos diferentes graus atribuídos à série pelo artista. A exposição apresenta também Massa sobre indivíduos (1964), obra emblemática realizada a partir da imagem original da série Gente.