Galeno: Arte por Engano

Em sua primeira individual em São Paulo, durante o ART Weekend em parceria entre as galerias Luciana Brito e Karla Osorio, GALENO apresenta experimentos de sua longa pesquisa sobre a relação entre a afetividade e a geometria na matriz cultural brasileira. No conjunto, encontram-se obras que alcançam complexidade e familiaridade. Metabolizando referências da cultura afro-brasileira, indígena e urbana, as obras harmonizam vestígios de diferentes sistemas rítmicos de formalização geométrica no Brasil. Trabalhando obsessivamente desde os anos 80, ele desenvolveu uma geometria sensível que reflete sua própria história: família negra no interior do país, bisavô canoeiro, avô artífice do couro, pai marceneiro e mãe rendeira. Seus esquemas totêmicos e os símbolos vocabulares surgem da repetição e da geometria. Tornam-se elementos que sintetizam muito da miscigenada identidade brasileira, evidenciando as dinâmicas de continuidade/persistência e de desaparecimento/apagamento.

Tudo isto é perceptível em suas pinturas bidimensionais, em seus quadro-objetos ou em suas esculturas originais. Seu geometrismo orgânico é como a própria natureza: não se repete da mesma maneira, mas cria variedade infinita que individualiza a concreção de padrões. Sua matéria prima primordial é tinta e madeira, mas também é prego, borracha, couro, fita, arame, renda, carretel. É um olhar sofisticado utilizando variedade de materiais rudimentares, que ele transmuta alquimicamente com sua imensa habilidade de criador que não se contém em “ismo” nenhum. Situado além dos movimentos coletivos, permanece criando seu próprio caminho, como um guerreiro que é, reinventando a geometria e ampliando limites da arte brasileira contemporânea.