Eder Santos: Enciclopédia da Ignorância

A partir do dia 28 de setembro, a Galeria Brito Cimino expõe a vídeo-instalação Enciclopédia da Ignorância, do artista Eder Santos. Essa é a primeira individual do vídeo-artista mineiro na cidade, e a obra chega a São Paulo para ser um marco na capital. A vídeo-instalação foi feita em colaboração com Evandro Rogers e Marcus Nascimento.

Apresentada primeiramente na 20ª edição do World Wide Video Festival, em Amsterdã (maio de 2003), a obra foi realizadagraças ao prêmio que o artista recebeu daPrince Claus Fund, uma renomada fundação holandesaque estimula e promove atividades no campo da cultura, dando suporte financeiro parapublicações e exposições de países da América Latina, Caribe, Ásia e África. A instalação foi também apresentada no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em julho deste ano. 

Ao entrar na Galeria Brito Cimino, o espectador terá a grande surpresa de deparar-se com o cubo branco transformado em um cubo negro, um espaço sem margens, quase um espaço flutuante, infinito. A luz irradiada que penetra o espaço da exposição transforma-se em completa sombra, uma quase escuridão, a abrigar então outros focos de luz: são as sutis projeções dos vídeos de Eder Santos. O ambiente está posto, a única luz a refletir nesse espaço desvela as incontáveis variáveis propostas já no tema da exposição.Talvez não fosse possível falar de inveja, vício, humilhação, remorso, ciúme e preguiça frente à claridade do sol. O artista desmembra as camadas destes sentimentos, e aí nos coloca como peças-chave para a imersão nas imagens projetadas.

Todas as projeções, seis no total, são compostas de objetos que servem de suporte e complemento para as imagens. Em uma das obras uma pedra recebe a imagem de uma família sentada na frente do capô de um fusca, todos sorridentes. Difícil haver material que resista mais ao tempo, à passagem da vida, do que uma pedra. Já numa outra vídeo-projeção encontramos, em três telas, a imagem em cadência da fumaça de um cigarro. Diante das telas há uma mesa e três cadeiras desocupadas. Simbólica representação da inextinguível presença de terceiros na vida a dois, esse trabalho leva o título Ciúme. Preguiça, obra na qual figura, dentro de uma pia com água, a imagem virtual de um pingo, é assim definida pelo artista: “Uma torneira pingando. Estrago que não foi consertado. A pia entupida retém o tempo.”

Numa total integração entre o conceito e o espaço expositivo, a vídeo-instalação de Eder Santos proporciona ao visitante um mergulho poético num buraco negro: o trânsito entre as projeções nos oferece um caminho inusitado; ao percorrer a galeria, não sabemos com qual projeção iremos comungar.  Se a escuridão espanta, mais instigante ainda será ver metaforizados em imagens os nossos estados inconscientes como ciúme, remorso, inveja, e as nossas espasmódicas tentações como o vício, a preguiça e ainda o sentimento de humilhação.É essa a enciclopédia cuja leitura o artista nos propõe, e a ignorância talvez seja a afirmação mais concreta da exposição. Numa narrativa imagética, as vídeo-instalações assumem o caráter de verbetes, a guiar-nos diante de nós mesmos. 

Ao ouvir a trilha sonora de Paulo Santos, que se funde às vídeo-projeções,é difícil não entrar em estado de hipnose ─ já que o espectador assiste a tantas imagens que, em movimento, sugam-no para dentro delas. Como numa performance de sensibilidades, somos parte da exposição.

Eder Santos participará ainda com o vídeo Neptune´s Choice do 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica (www.videobrasil.org.br), mostra competitiva que vai ocorrer no Sesc Pompéia, de 22 a 28 de setembro. No último dia da mostra no Sesc Pompéia haverá a abertura da exposição na Galeria Brito Cimino.Nessas ocasiões o público terá a possibilidade de ver a apresentação de dois magníficos trabalhos do vídeo-artista na capital paulista.