Daniel Senise

A Galeria Brito Cimino apresentará, de 23 de agosto a 24 de setembro, nove telas inéditas do artista Daniel Senise. As obras trazem uma continuidade da pesquisa que o artista realiza há alguns anos e que consiste em construir os quadros a partir das impressões de diferentes assoalhos de madeira.

As imagens que aparecem nas novas obras são de locais em construção ou desconstrução, composição ou decomposição. Nesses novos trabalhos nos deparamos com situações em andamento, em mutação, com o tempo em curso.  Em “Obra” (um díptico de 3,00 x 4,00 m) encontramos um labiríntico andaime de madeira que forma uma longínqua paisagem. São trabalhos bem diferentes dos que foram exibidos na última exposição individual do artista apresentada na Galeria, em 2001, onde eram representados espaços vazios esquematizados pelas linhas angulares da arquitetura de interiores.

Em sete das obras que serão apresentadas existe uma forte identidade entre a pintura (impressão do chão de madeira) e o que está representado na tela[1] (andaimes de madeira, por exemplo). Outra característica dos trabalhos é que a madeira, que é um material orgânico vulnerável ao tempo e seu fluxo, está tão evidente nestas obras que termina por reforçar a idéia de que as imagens agora construídas pelo artista estão atreladas à mobilidade, à transformação.

No mezanino da galeria estarão expostas duas obras que exploram um outro viés, ainda dentro da pesquisa de decalque do chão. Neste caso a própria tela, que decalcou o chão, insinua uma composição ao artista, como colocado por Moacir dos Anjos “... o artista sequer combina pedaços diferentes de telas, restringindo-se ao demorado convívio com as impressões dos pisos e ao recorte de um único segmento que, em acordo com a lembrança de imagens que carrega, melhor sugere uma paisagem por ele conhecida[2]”.

Nesta nova exposição de Daniel Senise podemos ver que continua pertinente o comentário de Gabriel Pérez-Barreiro, feito no primeiro livro editado sobre a obra do artista (em 1998) “O que Senise parece estar enfatizando é que a pintura não é só uma questão de pincel, tinta e gesto, mas antes o modo pelo qual as imagens são criadas e sustentadas pelo plano pictórico”[3]

Daniel Senise recentemente apresentou uma individual no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães - MAMAM, em Recife (de 16 de junho – 07 de agosto), e participará da Bienal Mercosul, em Porto Alegre (de 30 de setembro - 04 de dezembro). 

[1]Anjos, Moacir dos. Daniel Senise – a necessidade da pintura. Recife: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM. 2005.
[2] Passagem do texto de apresentação de Moacir dos Anjos para a mostra individual do artista no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM (16 de junho – 07 de agosto de 2005)
[3]Barreiro, Gabriel-Pérez. “Construções sobre a Pintura”, in Daniel Senise – Ela que não está. São Paulo: Cosac Naify. 1998 p. 30.