Saint Clair Cemin: Fotini
Para a Galeria 2, Saint Clair Cemin volta ao seu país de origem para apresentar “Fotini”, terceira exposição individual do artista na Luciana Brito Galeria. Radicado nos EUA, o artista é conhecido por lidar com uma diversidade de figuras, materiais e estilos de forma inusitada, conferindo um estilo espontâneo, porém dramático as suas obras. Considerada autêntica e despojada, a pesquisa de Saint Clair Cemin, apesar de percorrer um caminho atemporal, ultrapassa as questões meramente estéticas para fazer referências pontuais à História da Arte.
"Fotini", nome próprio grego de mulher que, do ponto de vista etimológico, vem da palavra φως [fos – luz] e significa aquela que nasce da luz. A exposição empresta seu título da obra homônima, "Fotini" (2013), um martelo de aço de proporções agigantadas preso em uma caixa de vidro. Concebida como um dueto exclusivo, a exposição só se completa com outra escultura também de símbolo feminino, "Venus-Delilah" (2013), tesoura de bronze, aberta, arrematada por formas marinhas e fixada em um altar de concreto. Ambas as obras são parte de uma série iniciada no final de 2011, intitulada "Drama", devido ao seu caráter narrativo.
Se existe algo que caracteriza a obra de Saint-Clair Cemin, é uma radical variação paradoxalmente estilística. Ao longo de sua carreira, o artista tem se utilizado de estilos de épocas e escolas diferentes como parte de sua poética, sem qualquer intenção paródica. No entanto, o trabalho de Saint Clair Cemin não pode ser definido mediante a estética do pastiche pós-moderno e a apropriação de estilos museológicos imaginários do passado, mas sim por uma constante que opera de forma muito mais profunda. Esta corrente subterrânea que atravessa o trabalho do artista caracteriza-se pelo emprego da dualidade como estrutura primordial, de tendências diversas e, por vezes, opostas, que podem ocorrer, tanto na mesma obra, quanto em séries diferentes.
Estas tendências podem ser divididas principalmente em duas e correspondem, metaforicamente, a dois pontos de vista opostos do mundo. De um lado, o transitório, o fugitivo, o contingente, as formas de tempo que, tais como a história ou a natureza, se enfrentam tanto à mudança como à morte; de outro, o eterno, imutável, o imperecível e todos aqueles âmbitos situados mais além do tempo, como a matemática ou a geometria. Esta dualidade que opera no trabalho de Saint Clair Cemin nunca aparece de forma isolada, pois são tendências que, embora aparentemente opostas, se complementam.
Dualidade esta que é identificada na obra intitulada "Fotini", por meio do contraste entre a força do martelo e a fragilidade do vidro que o cerca. Situado em um ligeiro desequilíbrio, o martelo parece querer bater no vidro com toda a sua força para se libertar de sua prisão, o que, no entanto, permanece em espera. "Fotini" é uma peça dramática, pois descreve um determinado momento da narrativa, o momento crucial antes da ação. Feito de aço patinado, suas proporções não correspondem às de um martelo comum, pois é ligeiramente mais curto e mais largo na parte central. Esta variação, bem como sua disposição vertical dentro da caixa e a forma peculiar da sua cabeça fazem com que a ferramenta adquira uma qualidade um tanto antropomórfica, ou mais precisamente, zoomórfica.
Na obra de Saint Clair Cemin, a ferramenta ou utensílio sempre se refere ao mundo do homem em sua versão mais patética e indefesa. Da mesma forma que "Fotini", como signo feminino, "Venus-Delilah" vem para completar a exposição e é apresentada como um item essencial também delineado por uma dualidade. De um lado, Vênus, deusa romana do desejo, nascida da espuma do mar e relacionada aos âmbitos do amor, da beleza e da fertilidade. Do outro, a filisteia Dalila, o personagem bíblico do livro dos profetas do Antigo Testamento, seduziu Sansão e cortou seu cabelo, terminando assim com sua força. No entanto, as tesouras também lembram uma espécie de compasso, como aqueles usados em geografia. Dispostas verticalmente com as pontas para baixo, as lâminas de Dalila criam uma figura vagamente antropomórfica e teatral.
"Fotini" é a história de duas personagens femininas opostas e complementares. A mostra, ainda, apresenta uma das principais características do trabalho do artista: a arte como uma recriação da percepção. Se a obra "Fotini", o martelo preso em uma gaiola de vidro, é, entre outras coisas, uma imagem da luz que golpeia os sentidos, a tesoura oceânica afiada de "Venus-Delilah" vem para representar o próprio ato de cortar, como uma metáfora da ação e seleção que afeta a mente. "Fotini", a exposição, é uma imagem da cerimônia de percepção.
Abertura
25 de junho de 2013, Terça-feira, das 19 às 22 horas
Exposição
de 26 de junho a 17 de agosto de 2013
Local
Galeria 2
Obras
duas esculturas
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Luciana Brito Galeria
Avenida Nove de Julho 5162
São Paulo Brasil 55 11 3842 0634