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- daata Fair | Héctor Zamora
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Para a edição da Daata Fair Digital Art, a Luciana Brito Galeria apresenta um conjunto de vídeos do artista Hector Zamora (1974, México). A pesquisa do artista desenvolve-se principalmente em torno do estudo de materiais e formas de articulação do ambiente natural, urbano ou arquitetônico, geralmente subvertendo os espaços, redefinindo e ressignificando o convencional. Por meio de grandes instalações e performances, sua investigação concilia esses opostos e cria um estranhamento crítico capaz de deslocar significados e entendimentos, tensionando o real e o imaginário, o público e o privado, muitas vezes problematizando aspectos histórico-sociais e políticos. Essa seleção de vídeos traz justamente uma síntese do viés de pesquisa do artista, que muitas vezes usa a força coletiva para pautar suas performances, que são ressignificadas por meio dos vídeos.
Em “O Abuso da história” (2014), o artista articula um grupo de pessoas para quebrar trezentos vasos de plantas tropicais, que são arremessados do primeiro andar do antigo Edifício Matarazzo, em São Paulo. Mesmo com várias leituras subliminares, o objetivo do artista aqui é simplesmente se dar ao direito básico do ato criativo. Também seguindo uma ação parecida de desconstrução, “Inconstância material” (2013), alocou um grupo de funcionários da construção civil para a 13a Bienal de Istambul, que num movimento quase coreográfico e intimista, ritmava os homens a jogarem blocos de tijolos um para o outro, deixando muitas vezes os blocos espatifarem no chão. A performance faz uma alusão direta aos sistemas de produção e construção e como estes mecanismos estão ligados as bases da nossa sociedade. Já em “Ordem e progresso” (2016), Zamora evoca a desconstrução de um universo simbólico que está ligado aos barcos, como os movimentos migratórios e grandes navegações, fugas e aventuras. Para isso, ele organiza vários barcos de pesca, que são lentamente desmantelados durante a exposição no Palais de Tokyo, em Paris.
O tema da misoginia é tratado com veemência em “Memorándum” (2017). Aqui, Zamora se utiliza das características arquitetônicas de um prédio para posicionar dezenas de mulheres batendo a máquina de escrever (sem tinta), formando uma grande estação de trabalho feminina. Ao som estridente das máquinas, as folhas de “memorándum”, que se referem subjetivamente às próprias biografias dessas mulheres, caem livremente pelos andares, lembrando a todos como a função de secretária sempre foi subjugada, mas fundamental dentro do aparelho político e como as mulheres sempre trabalharam para produzir lucro aos homens. A força de trabalho é também abordada na obra “Nas coxas” (2018), onde durante a 11a Bienal do Mercosul, o artista se apropriou do espaço para reunir um grupo de doze homens e mulheres, que modelaram aproximadamente 700 telhas de argila utilizando as próprias coxas. A expressão popular brasileira “feito nas coxas”, que indica quando algo não é feito com cuidado e atenção, provavelmente veio do período imperial, quando o ato sexual fora do matrimônio era realizado de forma incompleta e rápida, até “as coxas”. Atualmente, esse termo muitas vezes é atribuído erroneamente, de forma racista, à época em que os escravizados no Brasil produziam as telhas em suas coxas sem mesmo estarem aptos para isso.
Numa colaboração com a musicista e compositora cubana Wilma Alba Cal, além de um grupo de mais ou menos cem outros músicos, durante a 12a Bienal de Havana, o trabalho “Ensaio sobre o fluido” (2015) reúne todos eles num complexo de uma escola de arte praticamente abandonado, onde cada um deles fica posicionado em uma sala diferente, tocando uma música de autoria da compositora. Essa grande intervenção sonora guiava o público a transitar pelos cômodos labirínticos do edifício, até então inutilizado, e ficou conhecida por transformar o prédio em um próprio instrumento musical de grande proporção.
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Luciana Brito Galeria
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